Ouvir a chefia ou o Diretor de Recursos Humanos dizer que a empresa "já não conta mais consigo" é vivido como um murro no estômago. Mesmo que a pessoa até já esteja insatisfeita, são palavras aguçadas que arranham a confiança.
O trabalho é uma pedra basilar que alimenta a identidade e a auto-estima. O impacto da sua perda depende da pessoa, mas, no momento em que há o término de uma relação laboral, há sempre alguma angústia envolvida.
É nestes momentos que muitas pessoas me procuram e, cada vez mais, tem sido necessário trabalhar o "sentir" antes de me ocupar do "fazer". Uma perda significativa implica que se faça o luto da mesma e a "morte" de um projeto laboral pode passar por várias fases (equivalentes a outros lutos):
- Negação: É a reação ao choque, nega-se a situação para amortecer o impacto e dar tempo para processar a realidade. Muitas vezes, são alimentados pensamentos de que a empresa pode reverter a decisão, principalmente quando perceber o impacto da sua ausência na organização. Pode ser uma negação mais subtil, em que a pessoa em cada manhã ao acordar acha que não está a acontecer e que foi um pesadelo. Também podem persistir comportamentos que já não fazem sentido numa situação de saída.
- Raiva: Há uma sensação de traição e de revolta, sustentada pelo que a pessoa deu à empresa e a facilidade com que se sente descartada. Muitas vezes, há uma tentativa de encontrar culpados e a "raiva" é-lhes direcionada. Consoante o perfil, poderá haver uma tendência de se culpar pelo sucedido. Em muitos casos, há uma necessidade grande de falar da situação, em particular de alguns pormenores que ganham uma enorme importância.
- Negociação: Para seguir em frente a pessoa começa a construir uma narrativa que lhe permita "encaixar" dentro de si a situação. Esta negociação pode ocorrer em simultâneo com a empresa.
- Depressão: Se a negociação falha nos moldes que a pessoa definiu, há uma tendência para sentimentos de fracasso, perda de identidade, baixa auto estima, ansiedade quanto ao futuro, ou mesmo, isolamento social. Podem aparecer dúvidas sobre a possibilidade de encontrar outro emprego, dúvidas sobre si próprio e pode mesmo aparecer uma tristeza profunda.
- Aceitação: É o momento em que a perda é processada e se "arregaça as mangas" para encontrar outras oportunidades de forma ativa e confiante.
A minha prática diz-me que nenhuma destas fases é linear, podendo ser vividas de forma cíclica e algumas nem chegarem a acontecer. Mas, independentemente da "forma", o luto laboral é necessário para que se possa processar a perda e garantir que não são levados "fantasmas" para o projeto profissional seguinte.
Vivemos numa sociedade demasiado focada em "fazer" que impõe uma pressão imensa para quem se encontra desempregado. Nem sempre é dado o espaço a quem está nesta situação para "sentir" e ressignificar o sucedido transformando-o numa alavanca. A ausência desta reflexão pode transformar o ocorrido numa âncora que se vai enchendo de limos e enterrando cada vez mais.
A filosofia de Epíteto lembra-nos que não controlamos o que acontece mas controlamos a nossa atitude perante o que acontece. Nada, pela sua natureza, é uma calamidade, mesmo a morte só é terrível se a temermos.
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