O luto de uma relação profissional

Ouvir a chefia ou o Diretor de Recursos Humanos dizer que a empresa "já não conta mais consigo" é  vivido como um murro no estômago. Mesmo que a pessoa até já esteja insatisfeita, são palavras aguçadas que arranham a confiança.

O trabalho é uma pedra basilar que alimenta a identidade e a auto-estima. O impacto da sua perda depende da pessoa, mas, no momento em que há o término de uma relação laboral, há sempre alguma angústia envolvida.

É nestes momentos que muitas pessoas me procuram e, cada vez mais, tem sido necessário trabalhar o "sentir" antes de me ocupar do "fazer". Uma perda significativa implica que se faça o luto da mesma e a "morte" de um projeto laboral pode passar por várias fases (equivalentes a outros lutos):

 

  1. Negação: É a reação ao choque, nega-se a situação para amortecer o impacto e dar tempo para processar a realidade. Muitas vezes, são alimentados pensamentos de que a empresa pode reverter a decisão, principalmente quando perceber o impacto da sua ausência na organização. Pode ser uma negação mais subtil, em que a pessoa em cada manhã ao acordar acha que não está a acontecer e que foi um pesadelo. Também podem persistir comportamentos que já não fazem sentido numa situação de saída.
  2. Raiva: Há uma sensação de traição e de revolta, sustentada pelo que a pessoa deu à empresa e a facilidade com que se sente descartada. Muitas vezes, há uma tentativa de encontrar culpados e a "raiva" é-lhes direcionada. Consoante o perfil, poderá haver uma tendência de se culpar pelo sucedido. Em muitos casos, há uma necessidade grande de falar da situação, em particular de alguns pormenores que ganham uma enorme importância.
  3. Negociação: Para seguir em frente a pessoa começa a construir uma narrativa que lhe permita "encaixar" dentro de si a situação. Esta negociação  pode ocorrer em simultâneo com a empresa.
  4. Depressão:  Se a negociação falha nos moldes que a pessoa definiu, há uma tendência para sentimentos de fracasso, perda de identidade, baixa auto estima, ansiedade quanto ao futuro, ou mesmo, isolamento social. Podem aparecer dúvidas sobre a possibilidade de encontrar outro emprego, dúvidas sobre si próprio e pode mesmo aparecer uma tristeza profunda.
  5. Aceitação: É o momento em que a perda é processada e se "arregaça as mangas" para encontrar outras oportunidades de forma ativa e confiante.

 

A minha prática diz-me que nenhuma destas fases é linear, podendo ser vividas de forma cíclica e algumas nem chegarem a acontecer. Mas, independentemente da "forma",  o luto laboral é necessário para que se possa processar a perda e garantir que não são levados "fantasmas" para o projeto profissional seguinte.

Vivemos numa sociedade demasiado focada em "fazer" que impõe uma pressão imensa para quem se encontra desempregado. Nem sempre é dado o espaço a quem está nesta situação para "sentir" e ressignificar o sucedido transformando-o numa alavanca. A ausência desta reflexão pode transformar o ocorrido numa âncora que se vai enchendo de limos e enterrando cada vez mais.

A filosofia de Epíteto lembra-nos que não controlamos o que  acontece mas controlamos a nossa atitude perante o que acontece. Nada, pela sua natureza, é uma calamidade, mesmo a morte só é terrível se a temermos.

 

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VDC Consulting

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